As mudanças nas normas de segurança viária podem gerar dúvidas a projetistas sobre como proceder para alcançar o novo conceito de desempenho em defensas metálicas. Também conhecidas como guard rails, as barreiras de contenção longitudinal metálicas são projetadas para redirecionar o veículo, minimizando assim o impacto em acidentes automobilísticos e diminuindo os riscos para o motorista e os passageiros.
Para os projetistas, a falta de conhecimento das normas referentes às defensas metálicas pode ser um grande obstáculo, sobretudo quando os responsáveis por analisar os projetos de segurança viária desconhecem as especificações. Nesse momento, é necessário provar que aquilo que foi projetado seguiu todas as determinações legais.
Para evitar que a insegurança sobre os projetos viários seja um empecilho para os projetistas, apresentaremos neste artigo os principais pontos sobre a norma NBR 15486.
O que é a norma NBR 15486
A NBR 15486 é a norma que dispõe sobre a segurança no tráfego, ao estabelecer as diretrizes dos projetos de dispositivos de contenção viária e determinar os requisitos para os ensaios de impacto.
Historicamente, o mercado de segurança viária era normalizado, principalmente, pelas NBR 6970 e NBR 6971, que não contemplavam níveis de contenção, uma vez que esses documentos estabeleciam como fabricar as defensas metálicas, descrevendo materiais e dimensões a serem seguidos. Havia ainda a norma NBR 15486/2007, que deixava muitas lacunas no conceito de níveis de contenção.
Até a publicação da revisão da norma NBR 15486, em março de 2016, as defensas metálicas fabricadas conforme as normas NBR 6970 e NBR 6971 não continham níveis de contenção, uma vez que não eram testadas em laboratórios. Os modelos seguiam aquilo que era feito no mercado internacional desde a década de 1970.
Entretanto, desde março de 2016, com a concepção da norma NBR 15486, todos os novos projetos de segurança viária devem, obrigatoriamente, seguir as orientações de níveis de contenção.
Diretrizes do projeto viário
A norma NBR15486 é responsável por estabelecer as diretrizes de dispositivos de contenção viária no Brasil. Nela, constam os aspectos a serem considerados para garantir o desempenho dos dispositivos e das barreiras de contenção, tais como defensas metálicas, terminais, entre outros.
O primeiro ponto importante é determinar os riscos envolvidos nesse trecho da rodovia e, para isso, devem ser analisados os seguintes aspectos:
- cálculo de zona livre;
- presença de obstáculos fixos, estruturas de drenagem, taludes críticos e usuários vulnerável — todos dentro da zona livre;
- canteiros centrais;
- obras de média ou longa duração no local.
Após essa análise, podemos verificar a necessidade — ou não — de proteger o local caso não se possa anular os riscos, como reposicionar um obstáculo fixo para fora da zona livre.
Se a barreira de proteção for imprescindível, precisamos saber se estamos diante de um risco alto ou normal. Consideramos risco alto quando há situações que agravam as consequências desse acidente, como a presença de:
- escolas;
- habitações;
- estruturas que podem desabar, como passarelas e pórticos;
- taludes críticos com risco de queda do veículo;
- segmentos que apresentem risco de afogamento;
- áreas de mananciais;
- curvas ou declives acentuados;
- locais de armazenamento de combustível ou produtos químicos e torres de alta tensão.
Consideramos risco normal quando o acidente não envolve consequências adicionais ou perigos que possam agravar as consequências de um acidente.
O segundo ponto importante é determinar as condições do local e o seu tipo de tráfego. Para isso, analisamos:
- a classe da rodovia;
- a velocidade do trecho;
- o VDM da via (veículo diário médio);
- o percentual de veículos pesados;
- a geometria da via.
Em posse dessas informações, você poderá utilizar o diagrama de seleção de dispositivos de contenção — presente na figura 13 da norma NBR 15486 de 2016 —, seguindo os 6 passos contidos nesse esquema.
Dessa forma, o projetista será capaz de determinar o nível de contenção que deve ser aplicado nesse trecho da rodovia, seguindo as classificações:
- normal (N);
- alta (A);
- e muito alta (MA).
Para os sistemas de contenção classificados conforme as normas europeias EN 1317, temos o seguinte:
- classificação normal: N1 e N2;
- classificação alta: H1, H2 H3, L1, L2 e L3;
- classificação muito alta: H4a, H4b L4a e L4b.
Outros dispositivos podem ser classificados como temporários, com classificação T1, T2 e T3.
É importante ressaltar que, para determinar o nível de contenção de um dispositivo, é obrigatório que o fabricante do sistema faça o ensaio real de Crash Test em um laboratório creditado.
Em seguida, é imprescindível que sejam analisados o espaço de trabalho (workzone) e a segurança dos ocupantes do veículo por meio da severidade quando o automóvel impacta a barreira de contenção (ASI e THIV).
Essa norma também traz as recomendações que os projetos devem conter:
- especificações do dispositivo de contenção e espaço de trabalho;
- desenhos esquemáticos, incluindo o afastamento da via, o comprimento necessário, a declividade lateral e os efeitos do terreno;
- o afastamento lateral do dispositivo de contenção em relação à linha de bordo da via e também ao afastamento do obstáculo fixo — não podendo ser menor do que a área de trabalho ou a distância mínima de 0,5 m atrás do dispositivo, quando instalado em taludes.
Outros pontos importantes do projeto são:
- efeitos do terreno no momento do impacto, onde as rodas do veículo devem estar no solo e a suspensão não pode ser comprimida ou estendida nesse momento;
- deflexão lateral de forma gradual, obedecendo a proporção 1:10 — ou sendo mais suave do que ela. É fundamental também analisar a tabela de deflexão lateral, em função da velocidade, para sistemas semirrígidos e rígidos, como New Jersey;
- comprimentos mínimos em função de obstáculos fixo, em que está estabelecido um ângulo de 15 graus entre o bordo da pista e a face externa nessa obstrução.
Essa norma também contém:
- matrizes de ensaios sobre as normas europeia e americana;
- tabelas sobre severidade impacto, espaço de trabalho e intrusão;
- cálculo de zona livre com tabelas, desenhos e ábacos;
- informações sobre taludes e drenagem;
- diretrizes básicas para suportes para placas e luminárias;
- terminais de impacto;
- dispositivos atenuadores de impacto;
- dispositivos de contenção em zona de obra.
Outras normas viárias
As normatizações nacionais seguiram regulamentos aplicados em outras localidades ao redor do mundo, essencialmente a EN 1317, utilizada no mercado europeu, e a MASH, aplicada nos Estados Unidos. Além disso, vale a pena conferir também as normas de defensa metálica NBR 6970 e 6971 e a norma de barreiras rígidas.
Para cumprirem todos os requisitos legais para os projetos viários, os projetistas precisam estar atentos ao que é estabelecido na norma NBR 15486. Este conteúdo buscou elucidar os principais pontos sobre o assunto, mas é imprescindível adquirir e ler essa diretriz atentamente, pois a sua complexidade e a sua importância são altas.
Caso alguma incerteza persista, aproveite o espaço para comentários e deixe suas observações. Compartilhe sua experiência na realização de projetos de segurança viária e aplicação de defensas metálicas!