Ao longo dos últimos anos, os projetos de segurança viária e as iniciativas para redução das taxas de acidentes no trânsito se tornaram cada vez maiores. A preocupação para evitar que motoristas e passageiros corram riscos se tornou emergencial a partir do momento em que as taxas de mortes no trânsito alcançaram níveis exorbitantes.
Até o fim da década passada, morriam, anualmente, cerca de 1,3 milhão de pessoas em estradas em todo o planeta. Além disso, os acidentes no trânsito feriam de 20 a 50 milhões de indivíduos a cada ano.
Esses índices suscitaram a necessidade de se discutir campanhas para direção mais segura e ações para tornar as rodovias mais bem sinalizadas e com a estrutura adequada a fim de atender às milhões de pessoas que utilizam o transporte terrestre diariamente.
Neste artigo, vamos mostrar como a segurança viária mudou na última década, os esforços para que os projetos viários se tornem mais eficientes e os veículos sejam mais seguros. Acompanhe e fique por dentro também de ações que estão previstas para um trânsito menos perigoso.
Década de segurança viária
Atualmente, vivemos a Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020. Nessa campanha, lançada em maio de 2011 pela Organização das Nações Unidas (ONU), governos de todo o mundo se comprometem a tomar novas medidas para prevenir os acidentes no trânsito.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) é responsável por coordenar os esforços globais ao longo da década e monitorar os progressos tanto nacional quanto internacionalmente.
O órgão, vinculado às Nações Unidas, também oferece apoio às iniciativas cujos objetivos são:
- a redução do consumo de bebidas alcoólicas por motoristas;
- o aumento do uso de capacetes e cintos de segurança;
- além da melhoria dos atendimentos de emergência.
O impacto das ações preventivas e a diminuição nas taxas de acidentes fatais ao redor do mundo somente poderão ser definitivamente constatados ao fim de 2020, mas os reflexos da Década de Ação pela Segurança no Trânsito já podem ser observados.
Mudanças nas normas de segurança viária
Um dos principais reflexos das ações para um trânsito mais seguro foi o aumento no rigor das leis e a alteração das normas que regulamentam a segurança viária, com o estabelecimento de um novo conceito para os sistemas de proteção e equipamentos de sinalização em rodovias.
Níveis de contenção em dispositivos de segurança viária
Um exemplo claro de como a preocupação com a segurança no trânsito mudou o uso dos sistemas de proteção são os níveis de contenção, que estabelecem um novo conceito de desempenho em defensas metálicas. Também conhecidas como guard rails, essas barreiras são projetadas para redirecionar o veículo, minimizando assim o impacto em acidentes automobilísticos e diminuindo os riscos para o motorista e os passageiros.
Historicamente, o mercado de segurança viária no Brasil era normalizado, principalmente, pelas NBR 6970 e NBR 6971, as quais não contemplavam níveis de contenção, uma vez que não eram testadas em laboratórios. Esses documentos estabeleciam como fabricar as defensas metálicas — descrevendo materiais e dimensões a serem seguidos. Os modelos seguiam aquilo que era feito no mercado internacional desde a década de 1970. Havia ainda a norma NBR 15486/2007, que deixava muitas lacunas no conceito de níveis de contenção.
Já a partir de março de 2016, com a revisão da norma NBR 15486, todos os novos projetos de segurança viária devem, obrigatoriamente, seguir as orientações de níveis de contenção.
Assim, foi estabelecido um novo conceito de níveis de contenção, em que se leva em conta a performance do equipamento instalado. Isso se reflete em todas as normas, que passam a ser criadas com a visão de não especificar material, mas sim o desempenho esperado daquele produto. A garantia da eficiência desses equipamentos é ratificada por meio de ensaios de impacto — ou crash tests.
Ensaios de impacto
Como dissemos, antes da norma NBR 15486, as defensas metálicas não eram testadas em laboratório. No entanto, atualmente, ao determinar o nível de contenção de um dispositivo, é obrigatório que o fabricante do sistema faça o ensaio real de Crash Test em um laboratório creditado.
De acordo com a norma europeia EN 1317-2, utilizada como referência para a revisão da NBR 15486 de 2016, a matriz de ensaios de impacto realizados em laboratório credenciado é feita considerando os critérios de:
• velocidade de impacto (km/h);
• ângulo de impacto (graus);
• massa total do veículo (kg);
• o tipo de automóvel.
Em seguida, é imprescindível que sejam analisados o espaço de trabalho (workzone) e a segurança dos ocupantes do veículo por meio da severidade quando o automóvel impacta a barreira de contenção (ASI e THIV).
Mudanças no Código de Trânsito Brasileiro
Para assegurar que os motoristas evitem dirigir perigosamente e coloquem em risco a própria vida e as de outras pessoas, os governos têm adotado legislações mais rigorosas. No Brasil, isso se intensificou nos últimos anos, com a Lei Seca e a aplicação de multas mais altaspara ações que desobedeçam às leis de trânsito.
Desde novembro de 2016, é infração gravíssima se recusar a fazer o teste do bafômetro. O valor da multa é de quase R$ 3 mil, e o condutor não poderá dirigir por um ano. O motorista que atingir 20 pontos em 12 meses vai ficar, no mínimo, seis sem dirigir.
As infrações gravíssimas levam à penalização com 7 pontos na carteira. Outro exemplo dessa violação às leis de trânsito é o uso de película mais escura do que o permitido. Esse recurso, muitas vezes, é utilizado pelos motoristas para que não sejam flagrados utilizando o telefone celular enquanto dirigem.
Mudanças no público e na indústria automobilística
Assim como os governos têm tido preocupação em melhorar a estrutura das rodovias, as montadoras de veículos desenvolvem automóveis mais seguros. A cada ano, novas ações e mudanças na fabricação de carros, ônibus e motocicletas são implementadas para que motoristas e passageiros possam trafegar com mais tranquilidade.
Os carros mais seguros do mundo
Em 2015, a Euro NCAP, entidade responsável por testes de segurança dos veículos vendidos no mercado europeu, elegeu o Volvo XC90 como o carro mais seguro do mundo.
Fabricado na Suécia, esse veículo sai de fábrica equipado com seis airbags (frontais, laterais e cortina), sistema de frenagem automática com visão noturna, alerta de mudança involuntária de faixa, controles eletrônicos de estabilidade, tração e anticapotamento, além de itens de conforto e conveniência.
Já em 2016, 48 carros e crossovers receberam o título de “Top Safety Pick+” (“escolha mais segura”) do Insurance Institute for Highway Safety (IIHS), organização que tem o objetivo de reduzir os impactos de acidentes de trânsito.
Em sua avaliação, o IIHS dá notas baseadas em testes de impacto frontal leve e moderado, impacto lateral, força do teto e proteção da cabeça. Todos os carros classificados como escolhas mais seguras têm sistemas para evitar colisões que foram classificados como “avançados” ou “superiores” pelos testes.
Alguns dos carros avaliados como os mais seguros pelo Insurance Institute for Highway Safety estão disponíveis no Brasil.
O impacto do envelhecimento da população na segurança no trânsito
Uma das grandes preocupações com o aumento da segurança no trânsito está relacionada ao envelhecimento da população. Em consequência das melhorias nas condições sociais pelas quais o Brasil passou nas últimas décadas, aumentou-se a expectativa de vida e a população idosa no país.
Mantida a taxa atual, o envelhecimento do povo brasileiro será mais de duas vezes mais rápido do que a média mundial. Entre 2005 e 2015, o número de idosos de 60 anos ou mais de idade no Brasil cresceu de 9,8% para 14,3%.
Mas o que o envelhecimento da população impacta no trânsito? À medida que o ser humano se torna mais velho, ele tem a visão afetada, sobretudo com a perda da sensibilidade à luz. Dessa forma, os idosos têm mais dificuldade em enxergar as sinalizações, o que aumenta o risco de acidentes.
Os carros autônomos e o futuro da segurança viária
Uma das expectativas para que o trânsito se torne mais seguro no futuro está no desenvolvimento de carros autônomos. Esses veículos evitariam os erros humanos que causam acidentes e, assim, garantiriam que motoristas e passageiros chegassem aos seus destinos sem grandes riscos.
Ao contrário dos seres humanos, os robôs podem guiar automóveis sem distrações, cansaço ou embriaguez. Cerca de 92% dos acidentes automobilísticos envolvem erros humanos causados por esses fatores.
A realidade dos carros autônomos não está distante. A maioria das montadoras de automóveis aponta que esses veículos poderão ser produzidos e comercializados em 2020.
Todavia, os carros autônomos ainda geram um embate ético. Os robôs não têm a mesma percepção que os seres humanos para prever como outros seres humanos se comportarão, e isso poderia gerar acidentes. A primeira morte provocada por um carro autônomo aconteceu em julho de 2016.
A discussão envolve ainda como esses veículos se comportariam caso precisem desviar de um obstáculo e passem a ir em direção a pedestres ou outro automóvel. Para minimizar os riscos aos passageiros dos carros autônomos, uma possibilidade é de que as pessoas sejam impedidas de andar nos bancos da frente.
Fato é que a evolução da indústria automobilística e a fabricação de automóveis mais modernos tendem a colaborar para a segurança viária. Os projetos de dispositivos de contenção baseados na performance desses sistemas são outro fator que contribuirá para diminuir os riscos no trânsito.
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