Para um melhor custo-benefício em um projeto de segurança viária, o projetista deve identificar a defensa metálica ideal para cada trecho da rodovia.
Seguir aquilo que é determinado pela norma NBR 15486 de 2016 — que dispõe sobre a segurança no tráfego ao estabelecer as diretrizes dos projetos de dispositivos de contenção viária, bem como os critérios de aprovação dos dispositivos de contenção comprovados por ensaios de impacto (“crash test”) — é fundamental para assegurar que motoristas e passageiros estejam seguros quando trafegarem por aquele local.
Observar os riscos de trafegar por um trecho rodoviário será determinante para a escolha correta da barreira longitudinal. Em muitas ocasiões, a defensa metálica, também conhecida como guard rail, de nível de contenção N2 será a opção ideal, permitindo que o projeto alie custo-benefício e padrões de segurança. Acompanhe este artigo e entenda o porquê.
A defensa metálica N2
A defensa metálica com nível de contenção N2 é um dispositivo de segurança testado em laboratório europeu, que pode ser utilizado em todos os trechos de rodovias onde a classificação do nível de contenção requerido seja normal, conforme determinado pelo diagrama de seleção dispositivos de contenção da NBR 15486 de 2016.
Assim, o projetista, mantendo todos os padrões de segurança, evitará gastos desnecessários que ocorreriam caso adotasse uma padronização das barreiras de contenção com nível de contenção, pois seria obrigado a nivelar por um alto nível em toda a rodovia. A escolha feita pela forma correta apresentada na norma assegura que o projeto respeite o conceito de “rodovias que perdoam”.
Desde março de 2016, com a concepção da norma NBR 15486, todos os novos projetos de segurança viária devem, obrigatoriamente, seguir as orientações de níveis de contenção. Continue a leitura e entenda.
Os níveis de contenção
Para identificar os níveis de contenção de um trecho rodoviário, o primeiro ponto importante é determinar os riscos envolvidos nesse trecho. Para isso, devem ser analisados os seguintes aspectos:
- cálculo de zona livre (área lateral à pista de rolamentos que seja transpassável, sem obstruções e podendo ser utilizada por veículos errantes para recobrar o controle ou chegar a uma parada segura);
- presença de obstáculos fixos, estruturas de drenagem, taludes críticos e usuários vulneráveis — todos dentro da zona livre;
- canteiros centrais;
- obras de média ou longa duração no local.
O segundo ponto é determinar as condições do local e o seu tipo de tráfego. Para isso, analisamos:
- a classe da rodovia — de classe 0 ou especial até classe IV;
- a velocidade do trecho;
- o VDM da via (Veículo Diário Médio);
- o percentual de veículo pesados;
- a geometria da via, atravessando terrenos suaves, ondulados ou montanhosos.
Em posse dessas informações, o projetista poderá utilizar o diagrama de seleção de dispositivos de contenção presente na figura 13 da norma NBR15486 de 2016 seguindo os 6 passos nele contidos.
Assim, o projetista será capaz de determinar o nível de contenção a ser aplicado nesse trecho da rodovia, que pode ser classificado como normal (N), alto (A) e muito alto (MA).
Para sistemas de contenção classificados conforme as normas europeias EN 1317, temos a seguinte correlação:
- classificação normal: N1 e N2;
- classificação alta: H1, H2 H3, L1, L2 e L3;
- classificação muito alta: H4a, H4b L4a e L4b.
Outros dispositivos podem ser classificados como temporários com classificação T1, T2 e T3.
Características que podem influenciar na escolha
Uma vez constatada a necessidade da barreira de proteção, precisamos saber se estamos diante de um risco alto ou normal e entendermos as características da rodovia — como a classe da rodovia.
Classes de projeto de rodovias
Para determinar a classe de projeto de uma rodovia, os fatores analisados são: a função exercida pela rodovia e os volumes de tráfego, associados ao grau de dificuldade de implantação resultante da natureza do terreno atravessado.
Em um extremo dessa classificação, encontramos rodovias do mais alto nível técnico, com duas ou mais pistas, interseções em desnível, controle total de acesso de veículos e bloqueio total de pedestres. No outro extremo, temos estradas vicinais e pioneiras, que destinam a canalizar para um sistema viário troncal ou asseguram acessos a grupos populacionais com baixa acessibilidade.
Classe 0
Também chamadas de classe especial, são rodovias do mais elevado padrão técnico, com pista dupla e controle total de acesso. Para enquadramento nessa classe decorrerá de decisão administrativa de órgão competente.
Classe I-A
Rodovias de pistas duplas e controle parcial do acesso — é o caso rodovias arteriais com grande demanda de tráfego e condições semelhantes às rodovias de classe especial, mas com mais tolerância às interferências causadas por acessos.
Classe I-B
Rodovia de pista simples, de elevado padrão, suportando os volumes de tráfegos conforme:
- limite superior de abaixo de 5.500 VDM (Veículos Diários Médios) em trechos planos ou abaixo de 1.900 para trechos ondulados. Para trechos montanhosos ou muito ondulado esse valores são alterados para 2.600 e 1.000, respectivamente;
- limite inferior de 1.400 VDM.
Classe II
Rodovia de pista simples, suportando os volumes de tráfegos conforme:
- limite superior abaixo de 1.400 VDM;
- limite inferior a 700 VDM.
Classe III
Rodovia de pista simples, suportando os volumes de tráfegos conforme:
- limite superior abaixo de 700 VDM;
- limite inferior a 300 VDM.
Classe IV
Rodovia de pista simples, com características técnicas suficientes para atendimento do sistema viário local, compreendendo as estradas vicinais e eventualmente as rodovias pioneiras.
Relação entre as classes funcionais e as classes de projeto
Geralmente temos a seguinte relação:
- sistema arterial principal: classes 0 e I;
- sistema arterial primário: classe I;
- sistema arterial secundário: classes I e II;
- sistema coletor primário: classes II e III;
- sistema coletor secundário: classes III e IV;
- sistema local: classes III e IV.
Mais informações sobre a classificação estão descritas no manual de projetos geométricos do Instituto de Pesquisa Rodoviária (IPR) do DNIT.
Riscos existentes no local em análise
Risco normal
Acidentes gerados com severidade normal, sem consequências adicionais e perigos que possam elevar a severidade e as consequências e um acidente.
Risco alto
Existência de perigos que possam elevar a severidade e as consequências de um acidente com risco a terceiros dentro da zona livre, como acesso a áreas populosas (escolares, habitacionais ou laborais) lindeiras à via.
Além disso, caracteriza-se como uma zona de risco alto aquela que apresenta:
- estruturas que possam desabar (passarelas, pórticos e outras);
- locais que propiciem quedas em taludes críticos altos;
- segmentos próximos a águas profundas;
- áreas de mananciais;
- curvas acentuadas;
- declividades acentuadas;
- trechos com alto índice de acidentes;
- áreas de armazenamento de produtos químicos, combustíveis e torres de alta tensão.
Quando escolher a N2
A defensa metálica com nível de contenção N2 é indicada geralmente para os trechos de rodovia com risco normal e até mesmo em alto, desde que a classe de rodovia seja II, III e IV. A exceção são os trechos onde a geometria ou um VDM com índices de pesados alto podem agravar a probabilidade acidentes graves. Também é importante levar em conta o índice de acidentes naquele local.
Seguindo todos os critérios e passos relacionados no diagrama de seleção do dispositivo de contenção apresentado na figura 13 da NBR15486 de 2016, fica fácil a definição desse sistema.
Após a definição do nível de contenção, é imprescindível que sejam analisados o espaço de trabalho (workzone) e a segurança dos ocupantes do veículo por meio da severidade quando o veículo impacta a barreira de contenção (ASI e THIV).
As vantagens da N2
Embora seja um nível de contenção mais leve, a N2 é um sistema com melhor custo-benefício. Em projeto de segurança viário, não será necessário adotar o nível de contenção alto em todos os trechos da rodovia.
É preciso utilizar o nível de contenção no local correto e adequado, senão o projeto terá gastos além do necessário para garantir a segurança das pessoas que trafegam por aquela rodovia.
Com a utilização da N2 nos trechos em que a norma NBR 15486 de 2016 permite, haverá a otimização do projeto. Portanto, o projetista deve ter argumentos técnicos e conhecer o local em que será instalada a defensa metálica, observando as características de cada trecho da rodovia para escolher o sistema ideal para cada um deles.
Caso ainda tenha dúvidas sobre a utilização da N2 ou queira contatar profissionais com a expertise necessária sobre dispositivos de segurança viária, entre em contato com a Marangoni.