Entre os diversos fatores que envolvem projetos de segurança viária, a presença de zona livre nas rodovias é um dos mais importantes. É graças a esses espaços que motoristas podem corrigir falhas na direção e retomar o trajeto sem que o veículo se choque com algum obstáculo.
Para que esse objetivo seja alcançado, é necessário que os projetistas estejam atentos aos princípios que determinam como elas devem ser utilizadas, assim como aos cálculos para a sua implementação nos projetos de segurança viária.
Neste artigo, indicaremos como a zona livre deve ser utilizada em uma rodovia, quais cálculos envolvem sua implementação e as vantagens que elas proporcionam quando buscamos projetos mais seguros e com alto custo-benefício. Acompanhe!
Qual o conceito de zona livre nas rodovias?
Zona livre é a área lateral à pista de rolamentos que seja traspassável, sem obstruções, e que possa ser utilizada por veículos errantes para retomar o controle e/ou chegar a uma parada segura.
Ou seja, esse é o espaço ao lado da rodovia, utilizado para que o motorista possa corrigir uma eventual falha na direção e retomar o trajeto da pista. A largura de uma zona livre é determinada pelas regras normativas dos projetos de segurança viária.
A seguir, identificaremos como são feitos esses cálculos, de acordo com as particularidades dos diferentes trechos de uma rodovia.
Como calcular a largura da zona livre?
De acordo com a norma NBR 15486 de 2016, para o cálculo da largura das zonas livres, é recomendado providenciar uma área livre de obstáculos que seja tão larga quanto for prático fazê-la em determinada seção da rodovia.
O cálculo da zona livre na parte externa das curvas deve ser feito de acordo com a largura calculada e o fator de correção da curva. Assim, é estabelecida a equação:
ZLc = Lc . Kcz
Em que:
- ZLc é a zona livre na parte externa das curvas;
- Lc é a largura livre calculada;
- Kcz é o fator de correção da curva.
A norma NBR 15486 de 2016 apresenta tabelas para cálculo da largura da zona livre em função da velocidade, do Veículo Diário Médio (VDM) e da declividade lateral.
Para pista simples, utiliza-se o VDM total em ambos sentidos. Já em pistas duplas, é utilizado o VDM direcional da pista no sentido do tráfego em análise, considerando a possibilidade de impacto ou de acesso a áreas perigosas. Em marginais segregadas, por sua vez, deve ser considerado o VDM por pista analisada.
*** Em função das curvas horizontais, a largura da zona livre calculada pode ser ajustada com o uso de fatores de correção, em função da velocidade e do raio da curva (Veja tabela 2 da norma NBR 15486 de 2016).
Como a zona livre influencia na seleção de dispositivos de contenção viária?
A implementação de zona livre nas rodovias influencia diretamente na necessidade de instalação de dispositivos de contenção viária. A seleção dessas barreiras por níveis de contenção deve ser feita por trechos homogêneos da rodovia.
A zona livre é o primeiro passo no diagrama de seleção de dispositivos de contenção diária. Conforme a norma NBR 15486, “estando garantida a existência de uma zona livre desobstruída e traspassável, não será necessária a implantação de dispositivos de contenção viária”.
Ou seja, caso haja uma zona livre suficientemente larga para que os motoristas possam retomar o controle do veículo, é dispensável a utilização de dispositivos de contenção viária nesses trechos da rodovia. Assim, além do aumento da segurança para os veículos, há economia nos projetos de segurança viária.
Já no segundo passo do diagrama de seleção de dispositivos de contenção, entre outros fatores, a NBR 15486 aborda a possibilidade da presença de obstáculos fixos ou da existência de taludes críticos, assim como a presença de usuários vulneráveis à rodovia dentro da zona livre.
Após serem observados esses primeiros passos em que a sua importância é destacada, o projetista deverá analisar:
- a determinação do risco existente no local em análise (normal ou alto);
- a verificação da classe da rodovia e sua velocidade;
- a consideração do VDM e da porcentagem de veículos pesados;
- as condições geométricas da rodovia atravessando terrenos suaves, ondulados ou montanhosos.
Como a zona livre impacta no conceito de rodovias que perdoam?
Entre os anos de 2011 a 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu a Década de Ação na Segurança Viária, com o intuito de reduzir o número de pessoas que morrem, por ano, em todo o mundo, por acidentes de trânsito. Projetos de segurança viária envolvem um tripé — veículo, motorista e rodovia — em que se um vértice falhar, haverá o risco de um acidente fatal.
Assim, para que seja atingido o conceito de “rodovias que perdoam”, os projetistas devem estar atentos à utilização das zonas livres, assim como ao tratamento de objetos fixos nesses espaços.
De acordo com a norma NBR 15486, em rodovias e vias expressas urbanas, deve ser prevista uma área lateral à rodovia, desobstruída e traspassável. Caso não seja possível ter a zona livre, os obstáculos e taludes devem ser tratados de acordo com as seguintes alternativas:
- remover o obstáculo;
- redesenhar o obstáculo de forma que ele possa ser atravessável com segurança;
- relocar o obstáculo para um lugar onde a possibilidade de ele ser atingido seja menor;
- reduzir a severidade do impacto utilizando um dispositivo colapsível;
- proteger do perigo do obstáculo com dispositivo de contenção lateral, ou com dispositivo atenuador de impacto;
- delinear (sinalizar) o obstáculo se as alternativas acima não forem possíveis.
Como a zona livre aumenta a segurança e reduz custos?
Como vimos, os projetistas devem analisar a possibilidade de implementação da zona livre, calcular sua largura e ainda verificar como tratar objetos que estejam posicionados dentro desse espaço.
O uso de zonas livres nas rodovias, amplia a segurança para os veículos na medida em que permite que os motoristas possam retomar o controle ou chegar a um local seguro para parada. Além deste fator, temos também a redução custos de implantação e manutenção dos dispositivos de contenção viária.
Todavia, é válido ressaltar que, em virtude das estruturas no entorno da rodovia e os custos de ampliação dos bordos da rodovia, nem sempre será possível ter a largura da zona livre ideal e sem interferencias. O cálculo desses espaços é determinante para a escolha do melhor produto de segurança viária para cada tipo de rodovia.
Caso ainda reste alguma dúvida sobre projetos de segurança viária e a zona livre nas rodovias, deixe seu comentário abaixo. Teremos prazer em ajudá-lo! Vamos lá!